quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Política no esporte

Falar em políticas para o esporte no Brasil é uma tarefa muito árdua.
Inicialmente porque o conceito de esporte ainda é algo que causa muitas divergências mesmo entre aqueles que militam na área. Este conceito muitas vezes se confunde com o conceito de atividade física ou mesmo da tradicional educação física, praticada nas escolas de ensino fundamental e médio.
Segundo De Rose Jr. (2007), “tradicionalmente o esporte sempre fez parte da “área” Educação Física que abarca, até hoje, uma série de atividades físicas como a dança, a recreação e outras manifestações que não estão, necessariamente, ligadas ao âmbito escolar” (p. 15).
A partir deste conceito, percebe-se que “atividade física” é o grande guarda-chuva que congrega diferentes tipos de manifestações que envolvam movimento. Esta afirmativa baseia-se na definição de atividade física proporcionada por Barbanti (2003): totalidade de movimentos executados no contexto do esporte, da aptidão física, da recreação, da brincadeira, do jogo e do exercício.
Portanto ao se falar sobre políticas de esporte temos que ter clareza do que estamos abordando. Que esporte é esse? É o esporte sob o senso comum (pelo qual tudo que se faz em termos de atividade física é considerado esporte?) ou pelas definições que colocam o esporte como uma atividade com características especiais, submetido a regras específicas, com um componente competitivo inerente à sua essência e que visa um determinado rendimento?
Parece-nos que as políticas esportivas no nosso país transitam pelo primeiro aspecto. E isto acaba por criar muitas incertezas do que realmente queremos ou necessitamos.
Quais nossos objetivos ao abordarmos as tais políticas? Podemos pensar em um esporte realmente democratizado e que proporcione a um número grande de pessoas a oportunidade de praticá-lo, mesmo sem o objetivo de se tornar um grande atleta? Ou temos que pensar no esporte voltado a resultados que levem o país a ser uma potência mundial, ganhador de muitas medalhas paraolímpicas?
No primeiro caso, os governos (municipal, estadual e federal) deveriam ter uma parcela significativa de participação no processo de criação de uma cultura esportiva.
Isto passa, necessariamente, pela ampla divulgação do esporte como atividade possível de ser praticada em locais de fácil acesso e por todas as pessoas principalmente crianças e jovens. É claro que prover essa necessidade demandaria algumas ações que pudessem atender as expectativas dos praticantes: espaços e materiais adequados e profissionais preparados para desenvolver essas atividades.
No entanto, garantir espaço e bons profissionais não parece ser as únicas ações. Muito mais que isto, seria fundamental a idealização de um programa que atendesse a essas demandas.
Esse programa deveria ser estabelecido de acordo com alguns preceitos básicos:
Democratização real: prioritário a crianças e jovens de forma generalizada, sem qualquer restrição
Estabelecimento de conteúdos pertinentes à prática esportiva geral e que respeitasse os níveis de desenvolvimento dos praticantes e características das culturas locais
Formação de profissionais para ministrar essa prática. Criação de cursos complementares aos cursos superiores de Educação Física e Esporte
Utilização de espaços como escolas, parques, centros esportivos, estacionamentos de shoppings, entre outros
Avaliação e acompanhamento do desenvolvimento dos programas ao longo do tempo e propostas de reavaliação e reorganização de acordo com as necessidades apontadas
De fato, alguns programas já existem. No entanto, a grande maioria tem somente um interesse imediato para atender objetivos eleitoreiros e que são modificados a cada novo governante que assume seu posto, fazendo com que, constantemente, “reinventemos a roda”.
O segundo caso, desenvolvimento de uma política esportiva de alto rendimento para transformar o país em um país esportivo (não necessariamente uma potência esportiva).
Para ser potência, primeiro temos que nos tornar um país praticante de esporte. Como nos comparar às grandes potências se o número de praticantes é pequeno e essa prática é restrita a pequenos grupos em espaços altamente restritivos (normalmente os clubes).
Caberia às entidades esportivas (Federações, Confederações e Comitê Olímpico e Paraolímpico) prover recursos para o desenvolvimento dessas atividades criando centros de formação e treinamento para atuar da iniciação esportiva ao alto rendimento.
De certa forma, as duas situações poderiam se complementar. Em um primeiro momento uma ação governamental para incentivar a prática esportiva geral e, concomitantemente, as organizações privadas atuariam na captação dos possíveis talentos emergentes do primeiro.
Impossível? Nada é impossível se pensarmos em projetos que possam transcender a ambição política individual. Assim como em outras áreas (principalmente saúde e educação), o esporte (e a atividade física – foco de outra discussão) também deveria ser encarado como uma questão de políticas públicas, mas sem se eliminar a participação das entidades privatizadas na viabilização desses projetos.





Referências Bibliográficas:
Barbanti, V.J. Dicionário de educação física e esporte. São Paulo: Manole, 2003, 2ª. Ed.
De Rose Jr., D. O esporte como objeto de estudo: uma área a ser explorada. Corpoconsicência: vol.II, n. 1, p.

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